A aposentada Severina Gonçalves de Andrade, 72 anos, proprietária da casa no Alto José Bonifácio, Zona Norte do Recife, cujo muro desabou, na manhã de segunda-feira, matando uma senhora de 66 anos, informou que a Prefeitura do Recife havia sido alertada para o perigo desde 2004. Para comprovar o que estava dizendo, a dona de casa mostrou um ofício em que um vereador da área, a pedido dela, requer intervenção urgente do poder municipal para recuperar o muro por existir grande risco de desabamento.
Severina conta que, depois do requerimento, equipes da Coordenadoria de Defesa Civil do Recife (Codecir) estiveram duas vezes no local e constataram rachaduras no muro de tijolo. “Não posso ser culpada de nada. Esse muro foi construído na gestão de Augusto Lucena (década de 70). Em 2004, sabendo do risco, nós fizemos o alerta. Os técnicos vieram aqui, disseram que realmente havia risco, mas a prefeitura não tomou providências. Era para derrubar e fazer outro.”
A dona de casa contou que havia chamado a atenção de Elizete Batista de Freitas, que morreu após o desabamento. “Ela estava morando na casa há pouco mais de um ano. Quando veio para cá, informei que o muro estava com problema e que a prefeitura estava sabendo. O grave é que nada foi feito e ocorreu essa tragédia.”
Na manhã de ontem, a área estava isolada. No entanto, vizinhos não respeitaram a determinação e reviraram escombros em busca de objetos. “Tem muita gente que quer roubar fio para vender”, disse um vizinho. Um dia após o acidente, moradores do Alto José Bonifácio estavam assustados. “A gente mora aqui porque é o jeito. Quando a chuva chega forte temos que rezar para não acontecer nada”, diz a dona de casa Maria Santana Lima, 42.
O garoto João Marcos da Silva, 10, neto da aposentada Elizete de Freitas, que sofreu traumatismo craniano no acidente, recebeu alta do Hospital da Restauração (HR). O corpo da aposentada foi sepultado, na tarde de ontem, no Cemitério de Casa Amarela, Zona Norte. Familiares da vítima não quiseram falar sobre o assunto e não autorizaram fotografias.
Na madrugada de ontem, a chuva intensa derrubou parte de uma casa na Avenida Chagas Ferreira, na Linha do Tiro, Zona Norte. O comerciante Josemar Vieira da Silva, 32, dono da casa, sofreu escoriações. No momento do desabamento, havia seis pessoas no local. “Tivemos muita sorte. Minha avó estava dormindo na sala, justamente onde ocorreu o acidente. Ela não sofreu nada”, contou.
Na tarde de ontem, Josemar informou que ligou várias vezes para a Codecir, mas, ninguém havia aparecido no local. “Pago meus impostos em dia e não recebo nenhum tipo de assistência. Ligamos muito para a Defesa Civil e nada.”
Na Várzea, a dona de casa Luzia Nascimento também reclamou da lentidão. Segunda-feira, uma pequena barreira deslizou em frente a sua casa. “Minha residência sofre risco. Ligamos para a Codecir, mas ninguém apareceu. Vou continuar aqui. Não tenho o que fazer”, avisou.
A Prefeitura da Cidade do Recife (PCR), por meio da assessoria de imprensa, comunicou que a Codecir esteve no local, no entanto, constatou que não havia risco iminente de desabamento do muro. A assessoria informou que a prefeitura lamenta a morte da aposentada. A família da vítima foi incluída no programa de auxílio-moradia. A PCR salientou que, desde 2001, investiu R$ 280 milhões em ações preventivas e educativas em morros.
ANTENA
A ventania de ontem causou acidente no Espinheiro, Zona Norte, às 12h. Um pedaço da antena de transmissão da Rádio Transamérica, na Rua Marquês de Paraná, caiu, atingindo o telhado da emissora. Ninguém se feriu. A rádio está fora do ar e só deve voltar ao normal hoje à noite.
Vizinhos reclamam que a antena está mal colocada. “Todos estão com medo de que isso vire”, disse a dona de casa Germana Barbosa, 58. A torre tem 77 metros. A peça que desabou ficava no topo.
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